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Ana Maria Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil, morre em SP


Agrônoma e professora morreu em SP, aos 99 anos. 'Minha paixão é o solo, porque tudo depende do solo, inclusive os homens', disse ela ao Globo Rural em 2012.


Por G1 SP

06/01/2020 09h47 Atualizado há 23 horas



Ana morreu em São Paulo aos 99 anos — Foto: Virgínia Knabben/reprodução Facebook

A agrônoma e professora Ana Maria Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil, morreu neste domingo (5) aos 99 anos em São Paulo. Ela foi enterrada no domingo no Cemitério de Congonhas, na Zona Sul da capital paulista.


Ana era austríaca e migrou para o Brasil em 1948 com o marido, passando a dar aulas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Seus livros e ensinamentos viraram parâmetros para cientistas e pesquisadores do país, assim como agricultores.


Ela era apaixonada pelo solo e, com mais de 60 anos de carreira, ganhou prêmios e escreveu diversos livros. Entre suas dicas de manejo estavam a rotação de culturas, para ajudar no controle de pragas e doenças, e o uso de quebra-vento, uma barreira vegetal usada para proteger as plantas contra a ação do vento.


“Para mim é fascinante como a terra melhora, como a água nasce, como tudo está se desenvolvendo. A minha paixão é o solo, porque tudo depende do solo, inclusive os homens”, disse ela em 2012, em entrevista ao Globo Rural.


De todos os livros dela, o mais famoso é o “Manejo ecológico do solo”, lançado em 1979. Com força e pioneirismo, as ideias da agrônoma se espalharam pelas faculdades de agronomia e se tornaram referência obrigatória, principalmente para quem estuda manejo de solos e agricultura orgânica. Suas ideias se espalharam por agricultores de todas as regiões do país.


A notícia da morte foi divulgada pela página oficial da pesquisadora no Facebook, com o texto abaixo:

"Um jatobá que tomba, centenário. Nossa querida Ana Maria Primavesi faleceu hoje, aos 99 anos de idade. Quase um século de vida, cerca de 80 anos dedicados à ciência no e do campo. Descansa uma mente notável, uma mulher de força incomum e um ser humano raro. Afastada de suas atividades desde que passou a morar em São Paulo com a filha Carin, Ana recolheu-se. Quase centenária, era uma alma jovem num corpo envelhecido que, mesmo se tivesse uma vitalidade para mais 200 anos, não acompanharia uma mente como a dela. Annemarie Baronesa Conrad, seu nome de solteira, desde pequena apaixonou-se pela natureza, inspirada pelo pai.

Naturalmente entrou para a faculdade de agronomia, mesmo Hitler tentando fazer com que as “cabeças pensantes” desistissem de estudar. Ela não só era uma das raras mulheres na faculdade como também aquela que destacou-se por seu talento natural em compreender o invisível: a vida microscópica contida nos solos.

Nestes 99 anos de vida, enfrentou todas as perdas que uma pessoa pode sofrer: irmãos, primos e tios na Segunda Guerra. Posteriormente, pai, mãe, marido. E seu caçula Arturzinho, a maior das chagas, que é perder um filho. Sua morte hoje, causada por problemas relacionados ao coração, encerra uma vida de lutas em vários âmbitos, o principal deles na defesa de uma agricultura ecológica, ou Agroecologia, termo que surge a partir de seus estudos e ensinamentos. Não parece ser à toa que esse coração, que aguentou tantas emoções (boas e ruins) agora precise descansar.

Nosso jatobá sagrado, cuja seiva alimentou saberes e por sob a copa nos abrigamos no acolhimento de compreendermos de onde viemos e para onde vamos, tomba, quase centenário. Ele abre uma clareira imensa que proporcionará ao sol debruçar-se sobre uma nova etapa, a da perpetuação da vida. E dos saberes que ela disseminou.

Antes de tombar, nosso jatobá sagrado lançou tantas sementes, mas tantas, que agora o mundo está repleto de mudas vigorosas, prontas a enfrentar as barreiras que a impediriam de crescer. Essas mudas somos todos nós, cada um que a amou em vida, cada um a seu modo.

Nossa gratidão pelo legado único que nos deixa essa árvore frondosa, cuja luta pelo amor à natureza prevaleceu. A luta passa a ser nossa daqui em diante, uma luta pela vida do solo, por uma agricultura respeitosa, por uma educação que se volte mais ao campo e suas múltiplas relações.

Ana Primavesi permanecerá perpetuamente em nossas vidas."

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