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LIBERAÇÃO DE AGROTÓXICOS PODE PROVOCAR BOICOTE A PRODUTOS E PREJUDICAR EXPORTAÇÕES

Professor da USP alerta para impacto que pode sensibilizar compradores de produtos do país, em especial em mercados importantes como os da Europa. Representante do agronegócio já mostra preocupação com postura do governo.


Publicado por Redação RBA


Agronegócio: “O setor começa a perceber que a preocupação ambiental é algo relevante para muitos mercados consumidores, especialmente para a União Europeia”, afirma o professor Pedro Luiz Côrtes

São Paulo – Os números de exportações de produtos básicos na balança comercial brasileira se mantêm até agora, neste ano, nos mesmos níveis do ano passado, mas isso pode mudar dentro de algum tempo, com a repercussão negativa do furor do governo de Jair Bolsonaro (PSL) em liberar agrotóxicos para o setor de agronegócios e também com a falta de compromisso com a agenda ambiental. “O setor começa a perceber que a preocupação ambiental é algo relevante para muitos mercados consumidores, especialmente para a União Europeia”, afirma o professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente, e do Projeto Temático Fapesp Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista, em entrevista ao Jornal da USP.


“Recentemente, a revista The Economist, que é uma publicação aderente ao pensamento neoliberal, publicou uma matéria em que alertava que o desmatamento descontrolado irá prejudicar os agricultores brasileiros, se ele acarretar boicotes estrangeiros dos produtos agrícolas brasileiros”, disse Côrtes.


Ele explicou que o risco de atrito entre governo e agronegócio já havia sido alertado em maio do ano passado, quando se iniciou a discussão sobre a flexibilização do licenciamento de agrotóxicos no país. “Nós alertávamos que isso poderia prejudicar as exportações nacionais de produtos agrícolas, caso passássemos a utilizar produtos banidos em outros mercados”, relembra.


O professor também destaca que enquanto o presidente defende o garimpo em terras indígenas, o presidente do Instituto da Confederação Nacional da Agricultura, Roberto Brandt, declarou que o governo não deveria estar concentrado nisso, mas sim em métodos e processos para vigiar a Amazônia. “Notem que essa é a visão de um representante do agronegócio”, ressalta Côrtes.


O governo busca desenvolver uma campanha internacional para melhorar sua imagem do ponto de vista ambiental. A ideia é atuar a partir de setembro em países importantes para o Brasil, como a Alemanha, França e Reino Unido na tentativa de reverter as críticas recentes. Além disso, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles visitará países europeus para apresentar um “plano factível” nacional para conter o desmatamento e buscar apoio financeiro para executá-lo.


Para o professor, a estratégia propagandística está fadada ao fracasso. Ele elenca três indícios para explicar o porquê. A exoneração de Ricardo Galvão da direção do Inpe após divulgação de dados sobre a Amazônia “mostra que o governo parece estar mais preocupado em controlar dados e informações sobre o desmatamento do que evitar que o desmatamento ocorra”. Além disso, Bolsonaro reduziu o orçamento do Ibama e se manifestou contra a “indústria da multa”, enquanto “na verdade, os técnicos do Ibama estão apenas cumprindo o que determina a lei”.


Como mostrou a RBA na semana passada, na Suécia esse movimento de boicote já é uma realidade, embora ainda seja inicial. Nesse país europeu, a mobilização é comandada pelo dono de uma rede de mercearias especializadas na venda de alimentos orgânicos, a Paradiset, Johannes Cullberg. Ele ficou conhecido internacionalmente no começo de junho, quando mandou retirar de todas as suas prateleiras os produtos brasileiros que comercializava – melões, suco de laranja, água de coco, café e chocolate, entre outros. A iniciativa de propor a outros lojistas que fizessem o mesmo, em reação à farra dos agrotóxicos no Brasil, desagradou o governo brasileiro.


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